sexta-feira, 8 de abril de 2011

Ser Professor

 A partir da leitura de texto do livro “Ser Professor” de Claus Dieter Stobaus e outros. No capitulo, O professor e a docência : Encontro com o aluno – Marlene Grillo – O deslocamento do encontro. Pgs. 73 a 91.

O texto me surpreende pelo seu direcionamento, especialmente na sua segunda parte.
Inicia por expor um panorama da atividade do professor em sala de aula em citação de Gusdorf (1967) do livro Professores, para quê ?, em que lança preocupação sobre alunos futuros professores. Mostrando que os futuros professores tem uma visão extremamente instrumental e reducionista da docência, que desconhece duas ideais chaves mobilizadoras da docência, que são a instabilidade do contexto da sala de aula, e o sentido de totalidade do ensino.

            A instabilidade do contexto da sala de aula, parece ser claro para mim, pois as características de uma vida em aula são de incerteza, singularidade e heterogeneidade, sabe se que não existe manual para prever as ações docentes neste ambiente instável, em que somos surpreendidos pelo insólito e inesperado, e pretendemos sempre responder com acerto a todo o inesperado. Obviamente frente ao inesperado a muitos acontecimentos que seguem a rotina já conhecida, que pode ser guiadas pela repetição, mas que não podem ser mantidas no conformismo, que pode desvitalizar a docência, pela falta de interesse do professor de experimentar novas abordagens e manter a mesmice das velhas soluções para velhos problemas. A situação incerta obriga ao aprofundamento das relações, e sensibilidade e intuição do professor, para perceber cada grupo ou cada aluno.

            O sentido de totalidade, alerta para a complexidade da atividade docente, pela convergência concomitante de questões teóricas e práticas. Ultrapassando muitas dimensões no cotidiano escolar, chegando ao homem e as suas finalidades, se aproximando de um caráter educativo mais amplo do que a simples instrução. Abandona se a recionalidade técnica e dirige-se para para o sentido de globalidade, integrando o professor e aluno como pessoa e profissional. Elementos dinâmicos, em um contexto de ação reconstruindo teoria e prática sob um enfoque reflexivo e critico. A docência deve envolver o professor na sua totalidade, sua prática deve ser o resultado do saber, do fazer e do ser, um compromisso da sua totalidade. E neste sentido deve se estudar sob quatro dimensões distintas e relacionadas em sua várias dimensões : pessoal, prática, profissional e contextual.

            Dimensão pessoal, deve ser ter em mente que é uma profissão construída sobre valores e fundamentos éticos-filosóficos, impregnada de valores de intencionalidade. A atividade cruza constantemente a nossa maneira de ser com a maneira de ensinar. Espera se um equilíbrio entre as características pessoais e profissionais,  e que as suas ações traduzam a plenitude de sua pessoa. O aluno traz para aula sempre o produto de sua história pessoal, suas experiências particulares vividas, e sua disposição particular de realizar o seu percurso como estudante. Isto exige do professor uma acentuada responsabilidade de dever ético com as particularidades dos alunos, a fim de se estabelecer o caráter da reciprocidade com apoio afetivo, técnico ou cognitivo, uma relação solidária, prazerosa e desfiadora.

            Dimensão prática, aqui estão encerrados os conhecimentos didáticos, técnicas e métodos, instrumental teórico que facilitara o ensino e favorecerão a aprendizagem. São habilidades necessárias, mas não podem isoladamente ser supervalorizadas, a fim de não desviar a atenção de outros essenciais, sob pena de uma sobrevalorização da competência no atendimento de normas e ações mecânicas de técnicas.

            Dimensão do conhecimento profissional docente, é o conhecimento necessário para o professor realizar a tarefa de ensino, é um conhecimento diferenciado pois não apresenta limites precisos ( o autor se acha acima da média de mercado acima de outros profissionais, imaginando que outros possuem limites ?! acho que é característica de qualquer atividade humana com um homem que se desafia, não é o que se faz que define este caráter mas sim como cada ser desempenha o que faz. Julgamentos equivocados desta ordem são comuns de se encontrar em grupos como o clero, os militares e acadêmicos, que possuem juízos de valor muitas vezes completamente distintos e singulares do restante da sociedade produtiva). Cita ainda mais autores que defendem a colocação acima. O conhecimento profissional é mais do que o conhecimento de especialistas em uma área especifica e mais do que o conhecimento de conteúdos de diferentes disciplinas, e também é mais do que o resultado da experiência. O conhecimento profissional docente constitui-se de diferentes tipos de conhecimentos articulados de, disciplinas diversas, disciplinas relacionadas, experiência prática pedagógica e de didáticas especificas. Possuindo obrigatóriamente caráter de flexibilidade, dinamismo e atualização.
            Dimensão contextual, a pratica docente deve ser aberta para a realidade e a sua interação, ultrapassando o recinto da sala de aula a fim interagir no contexto da comunidade e da humanidade em uma perspectiva planetária, abrindo se para o entorno, em uma maior participação do aluno enquanto cidadão. Assim se assume a tarefa educativa relacionando situações concretas sempre vinculadas ao contexto.
            Por fim para concluir o texto o autor no seu titulo A recomposição pelo encontro, destaca em mais uma citação de Gusdorf, “não há na vida momentos neutros (...), seja qual for o calendário, todo encontro nos desloca e nos recompõe...” quando relata que os seus alunos mudaram a sua concepção na direção de um professor mais afetivo, acolhedor, receptivo, otimista, entusiasmado e confiante no potencial do aluno, e não um professor tão instrumental. No clima em sala de aula se reconhece a afetividade como um fator positivo na aprendizagem, destacando a importância da do equilíbrio entre o bom humor e a seriedade. A aceitação do inesperado como algo inerente a dinâmica da sala de aula. E a relação de professor e aluno é destacada a riqueza da interação e respeito as diferenças no que diz respeito a conhecimentos prévios, tempo de cada aluno, área de formação e oportunidade para o exercício da critica. O afeto a ternura e ao acolhimento são recursos de otimização do aprendizado, a docência integra muito mais do que conteúdos e técnicas, integra o professor na sua totalidade, ele é o que ensina, e ensina o que é. Aprende se não só com o cérebro, mas ainda com o coração (Assmann, 1998). Não se trata de colocar em segundo plano um conteúdo organizado para o aluno, mas sim novas categorias que estão despontando, segundo Gadotti (1989), “o cotidiano, a fala, o entorno, a singularidade, o vivido (...), a reinvenção da utopia, da paixão, da escuta e até da lagrima”.    

A pratica nas minhas disciplinas e o texto

Pelo texto fico realmente tocado pelo aspecto plural e humano que tira um pouco o foco dos procedimentos técnicos pedagógicos mais discutidos e tradicionalmente  focados. A dimensão da relação humana em sala de aula e a sua implicação no processo ensino aprendizado é algo que me atrai, o professor na sua totalidade presente na sua dimensão pessoal. Em nosso curso, arquitetura e urbanismo, pela característica essencialmente prática de grande parte das disciplinas, pela vantagem do reduzido número de alunos em sala, e pelo próprio caráter do tema arquitetura que é por si só muito plural abarcando sempre muitos aspectos para a sua execução, a proximidade e pessoalidade de todos, tanto professores como alunos é praticamente uma exigência para que se possa trabalhar nesta área.
Nas disciplinas que ministro, que são de desenho técnico e de projeto arquitetônico, não posso deixar de me mostrar para além de professor como um profissional da área, com as suas características de trabalho e conceitos. Os alunos da mesma forma, especialmente na disciplina de projeto arquitetonico, se mostram com o seu repertório de conhecimento arquitetônico e todas as suas pessoalidades de seu histórico de vida; é assim e só assim que se compõem um fazer arquitetônico.
Com a leitura do texto fico refletindo sobre as minhas possibilidades pessoais para otimizar a minha relação pessoal e afetiva com os alunos, em uma relação de maior confiança com a realização de suas potencialidades no aprendizado dos conteúdos da disciplina.     


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